Uma rodinha de amigos num bar qualquer. Olhares. Cerveja. Cigarro.
Eles me mostram a cartela.
“Aceita um?”
“Não, não fumo”.
Risadas.
“Sério?”
“Sim”.
*
Um trago. Dois tragos.
“Mundo louco, né?”, encaram o nada enquanto desfrutam do pequeno prazer.
“Em que sentido?”
“As pessoas ainda acreditam em uma vida idealizada”.
Parei.
Refleti.
Não consegui mais me concentrar.
O vazio me engoliu.
*
Não é uma frase incomum.
As pessoas usam.
As pessoas falam.
Espalham como se fosse rotina.
O coração pesa.
“É impossível querer algo tão simples?”
Uma vida sem ressentimentos.
Sem ódio.
Um amor sincero daqueles de desenho.
Algo unicamente meu.
*
“Sim, é. Talvez não devesse ser, mas é”. - a resposta.
Mais uma vida procurando algo para argumentar.
Um amor errado.
Uma xícara de café meio amarga.
Um abraço meio solto.
Um sorriso meio falso.
Um cigarro meio apagado.
Cansei.
*
Não queria mais saber de metades.
A vida deveria ser mais do que “meios”.
Deveria ser completa.
Deveria ser tão cheia que transbordaria.
Mas não é.
Não foi.
Talvez nunca seja.
*
Me permito dizer algumas palavras solitárias.
“A vida não se trata de ser meia”. Sorrio.
Se trata de ser 8 ou 80
Sim ou não
Cheia ou vazia.
“Se trata de ponto de vista”.
*
Um terceiro trago.
Fumaça.
Dúvida.
Reflexão de uma madrugada qualquer.
*
Talvez nunca alcancemos o ideal.
Sonhamos tanto que nos tornamos “meios”.
Tudo está pela metade. Incompleto.
Basta um olhar diferente.
Basta aceitarmos o “meio” que nascemos para ser.
*
Não somos inteiros.
Uma noite vazia
Numa roda de amigos
Em um bar qualquer
Tendo meias conversas.
Sendo meios.
m.a