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29 de dez. de 2017

2018


E, de repente, dezembro chega. De repente, o natal passa. De repente, as redes sociais se inundam de recordações felizes sobre 2017. De repente, Maria compara seus acontecimentos com os de seus amigos e percebe que o seu ano foi pior do que imaginava.

Maria não foi para a Disney.
Maria não arranjou o emprego dos sonhos.
Maria sequer encontrou o amor.

Maria acha que está atrasada em relação às outras pessoas. Ela estava tão segura sobre tomar um tempo para si mesma e, da noite para o dia, vê todas as conquistas que ela não realizou e que, talvez, nunca realize. Maria se encontra feliz pelos seus amigos, mas se sente cada vez mais deslocada sobre quem ela poderia ser por não conseguir alcançá-los. 

Textos e textos de autoajuda fizeram parte das noites de Maria. O seu cansaço psicológico estava escondido atrás de um sorriso. A sua luta diária por manter o seu próprio ritmo a deixou esgotada de tantas formas. Maria queria apenas continuar e não se preocupar com tantas recordações alheias muito mais incríveis do que as suas. Maria queria apenas continuar.

Calma, Maria. Você deu o seu melhor em 2017 e este é um motivo enorme para se orgulhar. Talvez você não tenha viajado tanto quanto gostaria de viajar, muito menos encontrado um emprego em que se sinta bem. Talvez você não tenha achado a confiança escondida dentro de si mesma, mas tudo bem. Você está fazendo um trabalho incrível e 2018 está aí para continuar te tornando invencível. E, cá entre nós, quer saber de um segredo? Nenhum ano é perfeito o tempo todo. 

Em um mundo de ilusões, todos somos Maria. 



20 de nov. de 2017

Cobranças


Nascemos em uma sociedade que cobra, em uma geração que cobra, em um lar que cobra. E cobra tudo. Todos os dias. O tempo todo. 

Somos cobrados pelas notas, pelo trabalho, pelo pouco tempo que temos, por quem nós somos e quem devemos ser. Somos cobrados por um amor que pode estar em qualquer um, em qualquer lugar. Por um amor que, talvez, nem chegue. Somos cobrados por sonhos que não nos pertencem, por passos que não queremos dar. Somos moldados para algo que nos dizem ser grande, mas como saberemos? Nem eles sabem. Não há como saber... Mas há como cobrar. E somos. E iremos.

A pressão da cobrança nos sufoca, nos caleja. Há momentos em que nos cala. Acabaremos por aceitar, já que o sofrimento é menos doloroso, e ficaremos assim por um, dois, três anos. Talvez mais. A cobrança cala a coragem, os sonhos. A cobrança nos aprisiona, e, uma vez presos, não ganharemos a liberdade tão cedo.

Nos confiam a persistência. Nos ensinam a nos cobrar. Nos ensinam que precisamos ser melhores do que todos os outros. Não há espaço para dois. É necessário persistir até não aguentar mais. Até alcançarmos quem não queremos ser ou terminarmos como quem sempre temíamos. E quando chegarmos lá? Não... E quando chegaremos lá?

Falam que a persistência move montanhas, muda o mundo. Queria que palavras bonitas fossem um terço do que aparentam. A persistência apenas anda de mãos dadas com o que sempre me perseguiu. É uma palavra amigável para se cobrar até o fim. Até o nosso fim.

Acabei percebendo um pouco tarde, mas ainda não cheguei no limite. Não chegamos.

No final, todos precisamos de coragem. Nem que seja um minuto.

Um minuto de coragem insana para não nos cobrarmos.

m.a






26 de out. de 2017

Observadores


É absurdo como uma coisa muito simples pode desencadear um bilhão de pensamentos ao mesmo tempo e te sufocar até você não conseguir mais diferenciar borrões de pessoas.

Desde que parei de escrever, venho tentando alimentar a ideia de que todas as pessoas têm um propósito da Terra. O propósito de serem seres incríveis. Talvez não para mim ou para você, mas, em algum lugar do mundo, para alguém. Supri a minha falta de vontade e desejei, todos os dias, caminhar cada vez mais longe com os meus próprios pés. Aumentei o volume das músicas enquanto andava pela rua e senti todo o meu corpo vibrando junto com aquela vontade de seguir o dia de cabeça erguida. E está funcionando. Eu estou caminhando. Mas, hoje, a recaída me abraçou. Não andei pela calçada mais florida, muito menos ouvi as melhores músicas. Não senti a vibração das notas me invadindo, não quis suprir minhas necessidades. 

Não acordei bem, não acordei saudável, mas eu não consegui me dar o luxo de apenas aceitar. Saí de casa, sentei em um banco e observei. Observei as árvores. Os cachorros, ali, abandonados. Observei um temporal se formando, o vento levando pertences aleatórios de pessoas que nunca mais os verão novamente. Observei por uma, duas, três horas. Observei cada um, em uma manhã chuvosa, indo cuidar de suas vidas com algum propósito que, ali, naquele momento, parecia desconhecido.

Apesar de todos os esforços para manter minha cabeça no lugar, senti como se eu fizesse parte daquele vazio interminável. Lutas constantes para manter uma mente sã e um corpo saudável a fim de apenas existir por vários e vários dias. Lutas constantes para conseguir chegar em um objetivo, talvez, inalcançável. 

Eu estava ali, existindo, sem me dar ao luxo de muita coisa. Sentada. Cumprindo horário. Observando quem não conseguia se dar ao luxo de observar.

Todos somos observadores de algo.

O que você observa?

25 de set. de 2017

Meios


Uma rodinha de amigos num bar qualquer. Olhares. Cerveja. Cigarro.
Eles me mostram a cartela.
“Aceita um?”
“Não, não fumo”.
Risadas.
“Sério?”
“Sim”.

*

Um trago. Dois tragos.
“Mundo louco, né?”, encaram o nada enquanto desfrutam do pequeno prazer.
“Em que sentido?”
“As pessoas ainda acreditam em uma vida idealizada”.
Parei.
Refleti.
Não consegui mais me concentrar.
O vazio me engoliu.

*

Não é uma frase incomum.
As pessoas usam.
As pessoas falam.
Espalham como se fosse rotina.
O coração pesa. 
“É impossível querer algo tão simples?”
Uma vida sem ressentimentos.
Sem ódio.
Um amor sincero daqueles de desenho.
Algo unicamente meu.

*

“Sim, é. Talvez não devesse ser, mas é”. - a resposta.
Mais uma vida procurando algo para argumentar.
Um amor errado.
Uma xícara de café meio amarga.
Um abraço meio solto.
Um sorriso meio falso.
Um cigarro meio apagado.
Cansei.

*

Não queria mais saber de metades.
A vida deveria ser mais do que “meios”.
Deveria ser completa.
Deveria ser tão cheia que transbordaria.
Mas não é.
Não foi.
Talvez nunca seja.

*

Me permito dizer algumas palavras solitárias.
“A vida não se trata de ser meia”. Sorrio.
Se trata de ser 8 ou 80
Sim ou não
Cheia ou vazia.
“Se trata de ponto de vista”.

*

Um terceiro trago. 
Fumaça. 
Dúvida.
Reflexão de uma madrugada qualquer.

*

Talvez nunca alcancemos o ideal.
Sonhamos tanto que nos tornamos “meios”.
Tudo está pela metade. Incompleto.
Basta um olhar diferente.
Basta aceitarmos o “meio” que nascemos para ser.

*

Não somos inteiros.
Uma noite vazia
Numa roda de amigos
Em um bar qualquer
Tendo meias conversas.

Sendo meios.

m.a

11 de ago. de 2017

Wor(l)ds


Deixei pessoas se aproximarem sem exigir demais. Sem saber demais. 
Tentei me ajustar em mundos que não se encaixavam em mim. Ou eu não me encaixava neles. 
Me moldei para me sentir parte de algo. Me alimentei de falsas risadas, falsos momentos. 
Criei um falso eu. Me permitiram ser capaz.
*
Fui capaz. Andei com meus próprios pés. Conheci novos mundos. 
Conheci a sinceridade. Já não conseguia cumprir o meu papel.
Já não correspondia com quem eu me tornei. Nada batia. 
As risadas secaram, os momentos se esgotaram e o certo parecia errado. Todos os dias.
Deixei que notassem. Deixei que o meu ajuste fosse apagado. Deixei que me odiassem.
Logo após, a sinceridade me abraçou. Me completou. 
Conheci o verdadeiro. Percebi que nunca me deram a escolha de ser. Nunca ri. Nunca presenciei. 
Nunca fui eu.
*
Agora, mais do que nunca, eu quero ser.
Mais do que nunca, os mundos se colidem. 
Mais do que nunca, a minha cabeça entra em uma guerra em que não quero estar.
De um lado, quem eu era. Do outro, quem eu sempre quis ser.
*
Talvez este seja o sentimento de querer abandonar o passado. Seguir em frente.
Querer que todos esqueçam. Querer que todos me esqueçam. 
Não posso escrever em um papel limpo quando já está rasurado, mas posso tentar. De novo.
Podemos tentar quantas vezes quisermos.
Podemos recomeçar. 
Podemos nos permitir.

Se permita.

m.a

13 de jun. de 2017

Mind


For the first time I feel grateful for the things I've achieved in twenty years.
For the first time, I can shake hands with anyone I know will be there to hold it.
But for the first time, I feel like I'm losing my mind.
And for the first time, I feel like there's no way to change that.
Why am I so discredited?

*

People tell me that I'm doing things the wrong way.
People judge more than their own trail.
Is it wrong to want to do the impossible?
I hope not.

Please, God, I hope not.

Life



I'm alone in a foreign country for 3 months now...
I don't have any friends, I don't have anyone to talk to in the end of the day.
I have to go to parks alone, go to art galleries alone, smoke alone.
I go to school and work, all day, everyday, the same.
The girl I love, loves another guy.
I think about her all day long, she's like art, with a heart, when I look at her it's like I'm admiring a painting.
Recently she moved to my class, I still don't know if this is a blessing or a nightmare.
I spend all morning looking at her, I try not to, but my eyes always find an excuse to look in her direction.
Life has been hard. Nights were spent crying.

I hope it gets better soon.     

14 de mai. de 2017

Quebra-cabeças


Por muito tempo
Pessoas apareciam
Ganhavam o espaço
Me faziam acreditar
Plantavam a esperança
E desapareciam
Sumiam
E, com elas, levavam o tempo
O amor
O carinho
O meu porto

*

Por muito tempo
Eu acreditei que eu era o problema
Eu era a pedra
Eu era o caco de vidro
Mas, na verdade
Sim, na verdade
Eu era um quebra-cabeças

*

Que não se encaixava
Não cabia em ninguém
Não completava nada
E nada me completava
E tudo bem, sabe?

*

A vida é assim
As pessoas são assim
O mundo é um quebra-cabeças
De sete bilhões de peças
Cada uma procurando
O seu encaixe perfeito

*

E, depois de muito tempo
Depois de muitos desencaixes
Eu encontrei você
A melhor pecinha
A que não completa o quebra-cabeças
A que completa aquela coisa
Que eu chamo de vida.


m.a

26 de abr. de 2017

Carta aberta


Garota, você chegou até aqui com as suas próprias pernas. Você aguentou barras que seus amigos viviam se questionando como. Você pensou tanto em como era fraca mas acabou se tornando TÃO forte. Você se tornou eu, e eu sou você.

Você nunca pensou que, um dia, chegaria onde chegou, conquistando objetivos, traçando metas e, de lei, tropeçando. Mas você está aqui, está viva e está inteira. Você conquistou amigos que, mesmo longe, são incríveis demais para serem descritos por uma postagem em um blog aleatório. Sim, você realmente se jogou de cabeça nessa coisa de "blog" e "pensamentos abertos", mesmo que ainda tenha medo de ver pessoas descobrindo o que se passa nessa sua cabecinha.

Você acabou no fundo do poço mais brilhante em que eu já conheci e está aprendendo a se erguer com as suas próprias fraquezas e medos. Eu me pergunto até hoje como você conseguiu e espero ter a resposta em alguns anos. Você está cursando uma faculdade maravilhosa, no curso em que tanto quis entrar e transformando todos os seus sonhos em palavras, tem noção disso? É uma conquista enorme.

Você sofreu com a distância de algumas pessoas e, confesso, eu lembro exatamente da dor e tenho pesadelos com isso todos os dias, mas você vai aguentar até aqui. Sorriu todos os dias em que se sentiu feliz e, nos que se sentiu triste, abraçou virtualmente aqueles que realmente quiseram te ajudar.

Você pensou diversas vezes em maneiras de arrumar a sua vida por conta própria e se sentiu frustrada em não conseguir por ser totalmente sustentável, mas vai chegar a sua hora. Você traçou planos insanos de viajar com uma pessoa incrível ao seu lado, dormir em hotel barato e comer hambúrguer todos os dias simplesmente para viver os melhores anos em que você não pôde nos últimos 20, 25, 30...

Ah, se você soubesse os erros que cometeu e tivesse as chances de ir por outro caminho... Mas não tem e vai entender que a vida é assim mesmo; feita para quebrar a cara uma, duas, três, mil vezes. Você luta, todos os dias, para sobreviver na sociedade e está fazendo um trabalho insano. Eu não saberia como fazer melhor.

O seu estágio vai ser o primeiro motivo de orgulho no seu plano de "vida independente", por favor, comemore com todas as suas forças. A sua faculdade, por mais que seja extremamente cansativa, vai acabar. Eu também estou esperando por isso. A sua família, mesmo com todas as diferenças do mundo, um dia, vão te aceitar do jeitinho que você é, e tudo bem ficar triste até lá. Os seus sonhos vão continuar os mesmos, não importa o que aconteça.

Garota, não desista de quem você é. Não permita que comentários de terceiros prejudiquem o seu caminho e não se menospreze. Você sempre foi mais do que um simples rostinho bonito e vai perceber isso várias e várias vezes. Você vai achar que a vida é difícil, e é mesmo, mas não vai se dar por vencida. Este seu pensamento é tão importante que vai te fazer voar pelo mínimo segundo que seja. Aproveite.

Talvez você não se imagine criando sonhos, muito menos expectativas, por medo de eles desaparecem no caminho, e isso machuca, já aconteceu uma vez. Está tudo bem se sentir perdida às vezes, você é humana e não uma máquina. Não se preocupe em fazer as coisas do jeito errado, você mesma vai se colocar no caminho certo sem precisarem falar o quão errada está.

Você vai ver todos os seus conhecidos fazendo tatuagem, colocando piercing e pintando o cabelo e vai se perguntar "por que eu não posso?". Você vai ter medo de confrontar quem realmente é por não conseguir se imaginar sendo recusada por quem mais ama. Você vai tentar, mas vai falhar todas as vezes, todos os dias. Este vai ser o seu pensamento por, talvez, muitos anos.

Sabe, você chegou aqui. Você, apesar de tudo, chegou aos seus quase vinte anos. Uma nova escala de números em sua vida e você conquistou mais coisas do que imaginaria conquistar, mesmo ainda tendo um pensamento de que não vai conseguir fazer grandes coisas. Mas, em todo caso, você sou eu, não é mesmo?

Um dia, eu ainda quero ser alguém incrível igual àqueles em que, um dia, já convivi. Eu quero correr com as minhas próprias pernas, e não apenas caminhar. Eu quero chegar em um nível em que o medo já não vai me impedir de lutar por coisas que acredito serem certas. Eu quero sair de férias com alguém incrível ao meu lado e dizer que foram os melhores dias da minha vida. Eu quero fazer tudo o que já falaram que é impossível apenas por ser eu. Eu quero porque é isso o que me faz, cada segundo, mais viva, eu quero porque ainda não tenho, eu quero porque ultrapassar limites é a única coisa em que eu necessito ser boa.

Garota, você foi incrível até aqui.
 renata massa