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1 de mar. de 2018

Depressão



Hoje, eu não vou falar palavras doces, expressar sentimentos verdadeiros e distribuir sorrisos. Hoje, eu vou mostrar do que eu sou feita. Desde o começo.

"A depressão é um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao longo de sua história. Pessoas que sofrem com distúrbios de depressão apresentam uma tristeza profunda, perda de interesse generalizado, falta de ânimo, de apetite, ausência de prazer e oscilações de humor que podem culminar em pensamentos suicidas."

Pesquisando no Google, as pessoas encontram inúmeros sites explicando o que é depressão. Acho bacana como a sociedade tenta colocar o mínimo na cabeça de cada ser humano que acredita firmemente na tal frescura da palavra chamada “depressão”. Mas, por um momento apenas, chega de palavras bonitas. Chega de conceitos técnicos sobre o que é a doença que não tem cura.

Minha depressão me acompanha há anos e eu não precisei de um especialista pra dizer o quão quebrada a minha cabeça é. A gente perde a vontade de fazer as coisas, mas não coisas aleatórias. Coisas que a gente ama fazer. Coisas que, se eu estivesse em sã consciência, nunca perderia. Eu conheci cada cantinho de dor que existia em mim, mas não aprendi a lidar com nenhuma que aparecia. Não fui ensinada. Não procurei saber. Omiti. Me calei. Estava tudo bem. Não era uma depressão muito aparente, muito presente. Ela vinha, me derrubava, continuava o seu caminho e eu me reerguia. Sozinha.

De um tempo pra cá, minhas responsabilidades aumentaram e, com elas, aquele pequenininho sonho de trazer algum orgulho às pessoas que eu mais amo na vida. Eu lutei todos os dias pra isso ser possível, já que não demonstravam tanto quanto deviam. E tudo bem. Tá tudo bem não sentirem a dor que eu sentia. Tem gente que não consegue.

Dentro da minha própria cabeça, quanto mais eu omitisse, melhor. Não precisaria tentar explicar, tentar lutar contra algo que me daria trabalho. Óbvio que eu não conseguiria, já que não consigo manter um diálogo sério sem chorar. Lutei sozinha por tanto tempo que, em algum momento dessa linha do tempo, desenvolvi um problema sério de crise de ansiedade. Enfrentar o desconhecido tirava o meu chão, me sufocava, embrulhava o estômago e, na pior das hipóteses, me fazia chorar. Não de tristeza, mas de nervoso.

2016. Agora, vivendo com uma depressão sem conhecimento, uma crise de ansiedade parceira e (con)vivendo com pessoas que emanavam aquela energia que não deveríamos querer por perto. Sem expor as dores guardadas desde o começo, sem conseguir pedir ajuda, sem querer incomodar, sem querer ser incomodada.

Me trabalhava todos os dias pra aguentar mais um pouco, mas este único pouco nunca chegava. Regava aquele último pingo de esperança em conseguir dar um fim em tantos segredos guardados. Era otimista todos os dias, não importando o quão mal eles estavam. Eu lutava sozinha e o meu maior orgulho, hoje, é não ter desistido. Eu queria lutar por mim, mas estava solitária há tanto tempo que, por medo, lutei sem exércitos ou fortaleza.

2018. As coisas não estão indo tão bem. Minha cabeça continua com as prateleiras bagunçadas e, meu coração, pesado. Ainda estou de pé no meio do campo de batalha e, de pouco em pouco, tento me convencer de que não estou no escuro. Na verdade, estou muito longe do meu objetivo de dar orgulho às pessoas que me cercam e há dias em que eu sinto que faço totalmente o contrário. Mas eu estou aqui. Ainda tentando.

Este texto não é nada além de dois avisos muito sinceros:

- Você não está sozinho, e eu sei que também não estou. Apenas leva tempo pra colocar o pensamento em prática e ESTÁ TUDO BEM! Não precisamos provar que lidar com um monte de coisa é fácil. Muito pelo contrário, se você lida com tudo isso eu, sinceramente, preciso te dar os parabéns. Está fazendo um ótimo trabalho.

- Eu sinto muito se desaponto as pessoas. Lembrar disso me fere. Todos os dias. Mas, sou humana. Você também é. Se permita desapontar algumas pessoas e consertar os seus erros com outras. Se permita, não guarde tudo. Você não quer se afogar em um mar de sentimentos ruins.


Se permita, ao menos, tentar. Se permita ser humano.

29 de dez. de 2017

2018


E, de repente, dezembro chega. De repente, o natal passa. De repente, as redes sociais se inundam de recordações felizes sobre 2017. De repente, Maria compara seus acontecimentos com os de seus amigos e percebe que o seu ano foi pior do que imaginava.

Maria não foi para a Disney.
Maria não arranjou o emprego dos sonhos.
Maria sequer encontrou o amor.

Maria acha que está atrasada em relação às outras pessoas. Ela estava tão segura sobre tomar um tempo para si mesma e, da noite para o dia, vê todas as conquistas que ela não realizou e que, talvez, nunca realize. Maria se encontra feliz pelos seus amigos, mas se sente cada vez mais deslocada sobre quem ela poderia ser por não conseguir alcançá-los. 

Textos e textos de autoajuda fizeram parte das noites de Maria. O seu cansaço psicológico estava escondido atrás de um sorriso. A sua luta diária por manter o seu próprio ritmo a deixou esgotada de tantas formas. Maria queria apenas continuar e não se preocupar com tantas recordações alheias muito mais incríveis do que as suas. Maria queria apenas continuar.

Calma, Maria. Você deu o seu melhor em 2017 e este é um motivo enorme para se orgulhar. Talvez você não tenha viajado tanto quanto gostaria de viajar, muito menos encontrado um emprego em que se sinta bem. Talvez você não tenha achado a confiança escondida dentro de si mesma, mas tudo bem. Você está fazendo um trabalho incrível e 2018 está aí para continuar te tornando invencível. E, cá entre nós, quer saber de um segredo? Nenhum ano é perfeito o tempo todo. 

Em um mundo de ilusões, todos somos Maria. 



20 de nov. de 2017

Cobranças


Nascemos em uma sociedade que cobra, em uma geração que cobra, em um lar que cobra. E cobra tudo. Todos os dias. O tempo todo. 

Somos cobrados pelas notas, pelo trabalho, pelo pouco tempo que temos, por quem nós somos e quem devemos ser. Somos cobrados por um amor que pode estar em qualquer um, em qualquer lugar. Por um amor que, talvez, nem chegue. Somos cobrados por sonhos que não nos pertencem, por passos que não queremos dar. Somos moldados para algo que nos dizem ser grande, mas como saberemos? Nem eles sabem. Não há como saber... Mas há como cobrar. E somos. E iremos.

A pressão da cobrança nos sufoca, nos caleja. Há momentos em que nos cala. Acabaremos por aceitar, já que o sofrimento é menos doloroso, e ficaremos assim por um, dois, três anos. Talvez mais. A cobrança cala a coragem, os sonhos. A cobrança nos aprisiona, e, uma vez presos, não ganharemos a liberdade tão cedo.

Nos confiam a persistência. Nos ensinam a nos cobrar. Nos ensinam que precisamos ser melhores do que todos os outros. Não há espaço para dois. É necessário persistir até não aguentar mais. Até alcançarmos quem não queremos ser ou terminarmos como quem sempre temíamos. E quando chegarmos lá? Não... E quando chegaremos lá?

Falam que a persistência move montanhas, muda o mundo. Queria que palavras bonitas fossem um terço do que aparentam. A persistência apenas anda de mãos dadas com o que sempre me perseguiu. É uma palavra amigável para se cobrar até o fim. Até o nosso fim.

Acabei percebendo um pouco tarde, mas ainda não cheguei no limite. Não chegamos.

No final, todos precisamos de coragem. Nem que seja um minuto.

Um minuto de coragem insana para não nos cobrarmos.

m.a






26 de out. de 2017

Observadores


É absurdo como uma coisa muito simples pode desencadear um bilhão de pensamentos ao mesmo tempo e te sufocar até você não conseguir mais diferenciar borrões de pessoas.

Desde que parei de escrever, venho tentando alimentar a ideia de que todas as pessoas têm um propósito da Terra. O propósito de serem seres incríveis. Talvez não para mim ou para você, mas, em algum lugar do mundo, para alguém. Supri a minha falta de vontade e desejei, todos os dias, caminhar cada vez mais longe com os meus próprios pés. Aumentei o volume das músicas enquanto andava pela rua e senti todo o meu corpo vibrando junto com aquela vontade de seguir o dia de cabeça erguida. E está funcionando. Eu estou caminhando. Mas, hoje, a recaída me abraçou. Não andei pela calçada mais florida, muito menos ouvi as melhores músicas. Não senti a vibração das notas me invadindo, não quis suprir minhas necessidades. 

Não acordei bem, não acordei saudável, mas eu não consegui me dar o luxo de apenas aceitar. Saí de casa, sentei em um banco e observei. Observei as árvores. Os cachorros, ali, abandonados. Observei um temporal se formando, o vento levando pertences aleatórios de pessoas que nunca mais os verão novamente. Observei por uma, duas, três horas. Observei cada um, em uma manhã chuvosa, indo cuidar de suas vidas com algum propósito que, ali, naquele momento, parecia desconhecido.

Apesar de todos os esforços para manter minha cabeça no lugar, senti como se eu fizesse parte daquele vazio interminável. Lutas constantes para manter uma mente sã e um corpo saudável a fim de apenas existir por vários e vários dias. Lutas constantes para conseguir chegar em um objetivo, talvez, inalcançável. 

Eu estava ali, existindo, sem me dar ao luxo de muita coisa. Sentada. Cumprindo horário. Observando quem não conseguia se dar ao luxo de observar.

Todos somos observadores de algo.

O que você observa?

25 de set. de 2017

Meios


Uma rodinha de amigos num bar qualquer. Olhares. Cerveja. Cigarro.
Eles me mostram a cartela.
“Aceita um?”
“Não, não fumo”.
Risadas.
“Sério?”
“Sim”.

*

Um trago. Dois tragos.
“Mundo louco, né?”, encaram o nada enquanto desfrutam do pequeno prazer.
“Em que sentido?”
“As pessoas ainda acreditam em uma vida idealizada”.
Parei.
Refleti.
Não consegui mais me concentrar.
O vazio me engoliu.

*

Não é uma frase incomum.
As pessoas usam.
As pessoas falam.
Espalham como se fosse rotina.
O coração pesa. 
“É impossível querer algo tão simples?”
Uma vida sem ressentimentos.
Sem ódio.
Um amor sincero daqueles de desenho.
Algo unicamente meu.

*

“Sim, é. Talvez não devesse ser, mas é”. - a resposta.
Mais uma vida procurando algo para argumentar.
Um amor errado.
Uma xícara de café meio amarga.
Um abraço meio solto.
Um sorriso meio falso.
Um cigarro meio apagado.
Cansei.

*

Não queria mais saber de metades.
A vida deveria ser mais do que “meios”.
Deveria ser completa.
Deveria ser tão cheia que transbordaria.
Mas não é.
Não foi.
Talvez nunca seja.

*

Me permito dizer algumas palavras solitárias.
“A vida não se trata de ser meia”. Sorrio.
Se trata de ser 8 ou 80
Sim ou não
Cheia ou vazia.
“Se trata de ponto de vista”.

*

Um terceiro trago. 
Fumaça. 
Dúvida.
Reflexão de uma madrugada qualquer.

*

Talvez nunca alcancemos o ideal.
Sonhamos tanto que nos tornamos “meios”.
Tudo está pela metade. Incompleto.
Basta um olhar diferente.
Basta aceitarmos o “meio” que nascemos para ser.

*

Não somos inteiros.
Uma noite vazia
Numa roda de amigos
Em um bar qualquer
Tendo meias conversas.

Sendo meios.

m.a

11 de ago. de 2017

Wor(l)ds


Deixei pessoas se aproximarem sem exigir demais. Sem saber demais. 
Tentei me ajustar em mundos que não se encaixavam em mim. Ou eu não me encaixava neles. 
Me moldei para me sentir parte de algo. Me alimentei de falsas risadas, falsos momentos. 
Criei um falso eu. Me permitiram ser capaz.
*
Fui capaz. Andei com meus próprios pés. Conheci novos mundos. 
Conheci a sinceridade. Já não conseguia cumprir o meu papel.
Já não correspondia com quem eu me tornei. Nada batia. 
As risadas secaram, os momentos se esgotaram e o certo parecia errado. Todos os dias.
Deixei que notassem. Deixei que o meu ajuste fosse apagado. Deixei que me odiassem.
Logo após, a sinceridade me abraçou. Me completou. 
Conheci o verdadeiro. Percebi que nunca me deram a escolha de ser. Nunca ri. Nunca presenciei. 
Nunca fui eu.
*
Agora, mais do que nunca, eu quero ser.
Mais do que nunca, os mundos se colidem. 
Mais do que nunca, a minha cabeça entra em uma guerra em que não quero estar.
De um lado, quem eu era. Do outro, quem eu sempre quis ser.
*
Talvez este seja o sentimento de querer abandonar o passado. Seguir em frente.
Querer que todos esqueçam. Querer que todos me esqueçam. 
Não posso escrever em um papel limpo quando já está rasurado, mas posso tentar. De novo.
Podemos tentar quantas vezes quisermos.
Podemos recomeçar. 
Podemos nos permitir.

Se permita.

m.a

 renata massa